Estava agonizado, me lembro.
Não suportava mais tanta miséria,
Não sei como resistir.
Velhos de barbas longas, corpos esqueléticos,
Barrigas pregadas às costas. Caminhavam leves.
Mulheres danadas de longos cabelos duros
Resistindo à desgraça do flagelo.
Crianças de olhos inchados, choramingando
Homens desesperados, vendo tudo aquilo,
Presos na sequidão da terra, tentando ser fortes
Lutando contra o sol e contra a si mesmos para que
O desgastes do suor não os levasse da vida,
Para que velhinhos, mulheres e crianças não
Fossem torrados pela terra superaquecida.
Calangos e insetos eram alimentos,
Qualquer coisa úmida era água,
Qualquer resmungo era fala,
Qualquer grito era morte.
Um sereno fino era chuva,
Um cochilo um descanso,
Um sonho uma esperança.
A terra rachada, lábios rachados, peles queimadas
E a fome acabando com tudo.
Porque vivo não sei ( só Deus ).
Tudo isso vivi, tudo isso passei...
" Me contava um velhinho, chorando
As lembranças do Quinze".


                                                    ** Inspirações de momento